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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nossa memória



Eu leio revistas conforme tenho tempo disponível. Então, eventualmente estou "atrasada"...
A revista Claudia de agosto/2010 trouxe a reportagem "Mas você não lembra???" sobre a preocupação das pessoas com sua memória e abordando a importância (exagerada) que elas dão a seus "lapsos" (perfeitamente normais).
Achei muito bacana mesmo o enfoque dado e adorei ver citados na reportagem pesquisadores como a Dra. Suzana Herculano-Houzel, da UFRJ e Dr. Ivan Izquierdo, da PUC-RS, e ex UFRGS. Abrindo parênteses, tenho que assumir que os gaúchos gostam mesmo das coisas da "sua terra". E como somos saudosos quando não estamos mais no Rio Grande... Bom, o Dr. Izquierdo é, na realidade, argentino naturalizado brasileiro, vive em Porto Alegre e é um dos maiores pesquisadores do mundo na área de fisiologia da memória. Seus artigos e livros são parte imprescindível das bibliografias básicas de trabalhos dedicados ao tema. Ele tinha seu laboratório de pesquisa vizinho ao laboratório da Dra. Magdolna Vozari-Hampe, minha querida orientadora de iniciação científica, no Departamento de Bioquímica da UFGRS.
Mas o que quero comentar mesmo, é que a pesquisa científica pode ser acessível, mesmo quando se trata de temas complexos como a memória e o esquecimento. Se te interessar leia A Arte de Esquecer (Ivan Izquierdo, Ed Vieira e Lent).
A memória humana atua de modo diferente que a memória de um HD de computador. Ela não fica armazenada em um único lugar do cérebro e é uma das "habilidades" humanas menos conhecidas até então. De tudo que foi estudado e se sabe até agora, podemos deduzir que, quanto mais emoções uma informação despertar ou quanto maior o número de vezes que ela for acessada, mais a memória relacionada a esta informação se solidifica. O que faz uma lembrança persistir é a repetição, as associações que fazemos, os sentidos que envolvemos.
Até mesmo em casos de hipermemória não é possível lembrar de tudo. Hipermemória??? Existe, sim. James McGaugh estudou dois casos de hipermemória: um de uma mulher que era desenhista de tribunais, que tinha uma memória fotográfica fantástica, e outro de um homem que se lembrava do que aconteceu, por exemplo, no dia 12 de outubro de 1944, o que depois podia ser confirmado nos jornais. Mas a triste conclusão é que a hipermemória vem com um custo. Os indivíduos que tem hipermemória não são pessoas importantes, nem que tenham feito coisas valiosas na vida, não são criativos. São pessoas de uma vida infeliz.
Então para os que querem uma memória melhor, os cientistas dizem para que fiquem calmos e se perguntem "Será que isso é mesmo necessário?" Tem muitas evidências de que a memória humana – a animal em geral, mas a humana em especial – está sempre funcionando o máximo que pode, na sua máxima velocidade permitida no momento, já que todos estamos em algum estado emocional em todo momento da nossa vida. Considerando isso, nossa memória está funcionando o melhor que pode, mais do que isso não dá, não tem como! Por isso, em geral, as drogas, sobretudo no tratamento do Alzheimer, são muito boas para quem tem a doença, mas na pessoa normal não têm efeito nenhum.
Enfim... As pesquisas têm comprovado que não é saudável se lembrar de tudo e que as pessoas precisam parar de se cobrar tanto por lapsos de memória que eventualmente acontecem. Viu mãe?

Imagem: Google

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